07/12/2012 - A água que o campo-grandense consome todos os dias pode não ter a qualidade esperada e até oferecer riscos à saúde, dependendo da forma de armazenamento em prédios e casas. Fatores como tempo que o liquido fica parado, tipo do reservatório e até a circulação da água podem comprometer o nível de cloro, substância utilizada para impedir a proliferação de micro-organismos, que podem provocar doenças que vão do mal estar até intoxicações graves.
O cloro é adicionado durante o processo de tratamento oferecido pela concessionária de água e esgoto, conforme determina o Ministério da Saúde, mas a situação muda do medidor para dentro do imóvel.
“Até o hidrômetro a água é responsabilidade da empresa, mas a partir dele até caixa d’água quem deve cuidar é o morador”, explica o pesquisador Peter Cheung da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul). Ele orienta trabalhos da universidade para melhorar o uso dos recursos de saneamento urbano.
A pesquisadora Keila Roberta Dassan estuda desde 2010 a qualidade da água de Campo Grande e durante um mês monitorou o consumo de um prédio da cidade para saber os efeitos do armazenamento. Ela faz doutorando na UFMS, com parte dele na Universidade Técnica de Dresden, na Alemanha, e monitorou a qualidade da água de um edifício da Capital.
Segundo Keila, a conclusão apontou que dependendo da forma como a água é mantida nos prédios ela pode perder o cloro e até ficar abaixo do limite mínimo estabelecido pela Portaria 2914 do Ministério da Saúde, que regulamenta o item no país, e que foi adicionado durante o processo de tratamento.
“O cloro faz a desinfecção da água, sem ela fica sujeita ao aparecimento de micro-organismos, como algas. Essas algas podem causar desde mal-estar, diarréia e até problemas mais graves de saúde”, explica Keila.
Questionamento - Na internet há vídeos que falam sobre a qualidade da água que consumimos, como o do médico Lair Ribeiro que questiona a água engarrafada e o pH, que indica a acidez, neutralidade e alcalinidade do líquido. Com milhares de acessos, o material afirma que há riscos na água consumida diariamente pelos brasileiros.
O pH é um dos critérios que devem ser seguidos pelas empresas que prestam o fornecimento, como a Águas Guariroba, em Campo Grande, e a Sanesul, no interior do Estado. Pela Lei, o valor mínimo deve ser de 4,1 e no máximo de 8,6 para que ela possa ser consumida pelas pessoas.
Na Capital, os valores estão dentro do exigido, mas há casos em que problemas como reservatórios sem limpeza correta e até mesmo falta de circulação da água. “Já encontrei até baratas em algumas caixas d’água, que caem ali e as pessoas não têm conhecimento”, revelou Keila.
O reservatório pode ficar com zonas de água parada, que não está boa para o consumo, e que pode acabar se misturando na água que está própria para o consumo e acabar “misturada” na torneira.
Atualmente a limpeza de caixas e cisternas segue a norma NBR 5626, que determina que a higienização seja feita de seis em seis meses ou quando recomendado pelas empresas de saneamento básico.
Comprovado o problema, a pesquisadora trabalha agora para propor formas para que o cloro não se perca quando armazenado e chegar numa proposta que será enviada para a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), que define as regras do armazenamento de água fria.
A expectativa é de que até o fim do próximo ano as novas medidas sejam concluídas e possam servir para garantir uma água de melhor qualidade diretamente nas torneiras.
Os últimos relatórios divulgados pela empresa responsável pela distribuição de água em Campo Grande, a Águas Guariroba, informou que, até chegar à torneira, o líquido é entregue com índice de 99% de potabilidade.
|