12/11/2013 - O médico pediatra José Eduardo Cury está sofrendo represálias e foi destratado pelo secretário de Urgência e Emergência de Campo Grande, Cristiano de Campos Lara, após ter denunciado o que considera descaso da administração do prefeito Alcides Bernal (PP) com relação à saúde pública.
Cury filmou e mostrou em reportagem um parto de alto risco sendo realizado na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) Coronel Antonino. Após a divulgação, o secretário entrou em contato com Cury por telefone e foi bastante ríspido, usando palavras de baixo calão para constranger o médico por ter feito a denúncia.
De forma truculenta, o homem escolhido e nomeado por Bernal para coordenar os serviços de urgência e emergência em Campo Grande vociferou ao subalterno que ele teria ido à televisão falar ‘merda’.
Nas filmagens, o médico mostra o parto de uma senhora, gestante de alto risco, que tinha feito pré-natal no Hospital Regional. A mulher conta que o Samu demorou quase uma hora para ir buscá-la em casa e ainda fez uma ‘parada’ na UPA, com ela em pleno trabalho de parto, para ‘trocar de equipe’. Nesse momento a bolsa dela estourou e os médicos da UPA tiveram que realizar o parto sem ter em mãos qualquer histórico da paciente.
Cury acusa ao episódio a falta de gestão e cobra do secretário de saúde, Ivandro Fonseca, da central de coordenação, da central de urgência e do secretário adjunto a responsabilidade por não equacionar números de leitos, vagas e pede que se não tiver solução, que Ivandro abra vagas em hospitais privados para não deixar a população a mercê das enfermidades.
Inconformado com a cobrança feita por meio da mídia por Cury, Lara faz uma ligação ao médico para saber o porquê da exposição da deficiência do setor de saúde. Receoso das retaliações que poderia sofrer após ter tido coragem de denunciar o descaso na saúde, Cury foi orientado a gravar as conversas. Na ligação, Lara questiona a Cury o que estava acontecendo e o que foi àquela reportagem?, se referindo às imagens do parto de alto risco.
O secretário de urgência questiona se o médico sabe sobre qual a competência dele, e diz que a responsabilidade de viabilizar leitos é de outro setor. Cury então se justifica dizendo que inclui o secretário e eles porque na verdade é isso ai que tem que ser feito e faz outra cobrança.
“Não é possível que a gente (UPA) seja estacionamento de pessoas graves como estamos hoje”, disse, uma vez que segundo ele pacientes graves como cardíacos, baleados, politraumatizados, ficam ‘estacionados’ nas UPAS aguardando vaga em hospital.
Em determinado trecho da conversa, Lara trata Cury de forma truculenta e diz que ele falou ‘merda’. “Tem que medir muito bem o que você fala pra não falar merda, como você gosta de fazer. Aqui não é nenhum moleque não. Tenho mulher, tenho tudo pra zelar. Agora você vai falar um monte de asneira na televisão? Você está pensando que você é quem, rapaz? Você me respeita, se foi regulado um parto pra você e você não tem capacidade de fazer, paciência”, reclama.
Em nenhum momento, Lara pergunta como estavam passando mãe e filho depois do parto de alto risco realizado na UPA, o que tinha sido feito deles e se havia algum acompanhamento médico do caso.
Na ligação telefônica, Lara se mostra bastante irritado apenas porque para ele, as declarações de Cury o chamam de incompetente. “Eu não vi a reportagem, mas pelo que disse você me chamou de incompetente”.
Cobrado por Cury para tratá-lo com cordialidade, pois ambos são colegas médicos, o nomeado de Bernal ainda tenta justificar a truculência pelo fato de estar em cargo de chefia. Antes de encerrar a ‘conversa’, Cury, Lara ainda faz questão de deixar claro que não estava tratando Cury como médico, mas como 'chefe e subordinado'.
Outro lado
A reportagem entrou em contato com o médico Cristiano Lara que não desmente a truculência com a qual tratou o servidor público, mas nega ter ameaçado Cury. “Em todo momento, na conversa com ele eu falo que estou ameaçando. Sobre o incidente do parto nós vamos esclarecer tudo certinho. Tem muitos pontos que mostram que o que ele estava falando é mentira. Eu estava bravo sim, porque ele desmoralizou o serviço público, mas não o ameacei”, disse.
Sobre o parto na UPA, Lara explicou que a troca de ambulância foi feita porque a que buscou mulher em casa não tinha médico. “Essa grávida, veio em ambulância básica com motorista e técnico e enfermagem. Como ia passar na frente do Coronel Antonino, seria uma omissão não trocar por outra com um médico e uma enfermeira. Só que quando chegou lá, a enfermeira viu que estava em trabalho de parto e pra nascer na ambulância no meio do trânsito era melhor que nascesse na UPA. Não ia dar tempo, mas ficou tudo distorcido”, conta.
Lara disse ainda que é coordenador, mas também atende nos postos de saúde e que as equipes médicas ficaram indignadas com a reportagem. Além disso, Lara informou que pediu uma avaliação de conduta ética médica e o fato está sendo apurado em sindicância interna.
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