31/10/2013 - A bebida símbolo de Mato Grosso do Sul é vendida praticamente em cada esquina das praças paraguaias. Trouxemos o costume dos vizinhos e só quando chegamos a Assunção percebemos que "tereré mania" mesmo é o que existe por lá.
O costume parece maior que o tereré. Ouvimos falar que na balada um grupo de jovens é capaz de passar a noite compartilhando 1 latinha de cerveja. Até em roda grande, todos vão bebendo, até acabar e a turma pedir outra. O funcionário de uma empresa telefônica, Luis Canillas, confirma e explica: "É isso mesmo, para não ficar quente. Também tem a conversa que é boa. No Brasil como é?", pergunta.
No Congresso, as garrafas térmicas revestidas de couro já aparecem na frente do prédio, com os seguranças bebendo sem cerimônia. Uma guampa para dois, é o mínimo da divisão entre os paraguaios. “Aqui a gente toma umas 2 garrafas de água por turno”, ri o segurança.
Ao lado, em 4 bancos da pequena praça onde também funciona o Senado e alguns museus, mais de 20 alunos conversam uniformizados com roupas clássicas, incluindo gravatas, com a roda de tereré em andamento. “Aqui as escolas deixam os estudantes entrarem com o tereré”, explica o pintor Francisco Ortiz.
É uma bebida democrática. Pode ser pobre, pedir esmola na rua, mas o paraguaio sempre tem uma bomba de tereré guardada.
O "respeito" à tradição também é evidente. Difícil é ver alguém com a água em garrafa pet, como acontece em Campo Grande. Em Assunção, a maioria tem uma garrafa térmica toda enfeitada ou com algo que identifique o proprietário.
Pela cidade há sempre uma banca com as térmicas em oferta, com a possibilidade de gravar o nome do dono na hora, tudo por cerca de R$ 60,00.
Vira e mexe também há um anúncio improvisado na porta das casas e apenas a palavra: “Hielo”. O gelo é vendido do tamanho de um copo, por 25 centavos. A água também tem preço, cheia de ervas medicinais. Pelas ruas, as banquinhas de tereré tem grandes tonéis com água fria, ervas frescas em maços e isopores com o gelo ao lado. Uma jarra sai por R$ 2,50.
“É água corrente mesmo, vem da torneira”, avisa o pintor. Em comum, além da procedência, todos os vendedores usam uns jarros de plástico coloridos, com a base e a parte de cima roídas. São todas bastante velhas, mas servem só para tirar a água dos tonéis e despejar nas garrafas que chegam uma depois da outra, principalmente, de manhã.
"Tomamos pouco café aqui. Quando acordamos, é tereré e empanada. Depois, ficamos a manhã toda bebendo e diminui um pouco à tarde", diz Francisco. Ele lembra que é uma rotina, de segunda a segunda. "Nos sábados e domingos, as pessoas saem logo cedo de casa só para comprar erva. É uma tradição".
Dona Irina Elias foi costureira por mais de 30 anos. Há 5, vende água de tereré na Plaza de La Libertad. "É o que as pessoas mais compram por aqui. É venda certa quando está calor", comenta. A senhora de 68 anos lembra que cresceu ouvindo os pais contarem que a bebida surgiu na guerra do Chaco, quando os soldados não podiam recorrer ao fogo para esquentar a água do chimarrão. "Tomavam frio para não chamar a atenção do Exército inimigo".
Mercedes Domingues também resolveu montar uma banca, mas há 22 anos. "Tenho muitas ervas para os nervos, são a que mais vendo". Ela consome a água na erva desde os 10, 12 anos, assim como a maioria das pessoas que conhece. "Tem dias que faz 40 graus, não dá para passar sem".
Quem vai contra a maré, encontra uma saída para se enturmar. Júlio não bebe tereré porque tem asia. Mas gasta dinheiro para entrar na onda. "Eu compro para os amigos. Faz parte da nossa cultura", justifica.
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