23/10/2013 - Um salão de beleza onde ninguém fala ao mesmo tempo. O secador de cabelos não está ligado e como trilha sonora, a televisão mostra os gols do final de semana. Na mesinha de centro, entre o jornal diário estão Playboy, VIP, Sexy e Placar. Com quase meio século, dois dos mais antigos salões de beleza têm escancarado o segredo do sucesso: souberam cativar o público masculino.
Na rua 14 de Julho, são 49 anos de Salão Caicó. Ele já esteve em dois endereços, primeiro em frente à praça Ari Coelho e hoje entre a 7 e a 15. O Lado B entra como quem não quer nada e a primeira coisa que ouve é a televisão ligada no futebol, o canal: Sport TV.
Das sete cadeiras de salão da frente, nenhuma é feminina. A decoração é das antigas em preto, sem nada de frufru. Os espelhos obedecem à ordem das poltronas, um de frente para o outro. De um lado, um cliente e um barbeiro batendo papo. No sofá os outros quatro profissionais contando vantagem.
José Rangel da Silva, de 47 anos, um dos três filhos que continuaram tocando o salão, já explica que não gosta de ser chamado de cabeleireiro. Sem jeito ele argumenta “não é que eu não gosto, mas barbeiro só atende a clientela masculina, então porque me chamar de cabeleireiro?”
No Caicó, é ele e mais dois irmãos, Jaime e Marcelino, além dos dois barbeiros Donizete e Elizeu. Ao fundo, não é que tem espaço para atender mulheres também? Mas bem menor. Os barbeiros explicam que a irmã também seguiu o mesmo ramo e por conta disso, ganhou o espaço para as amigas.
“Mas aqui fica no futebol, lá fica na novela, Videoshow. Aqui Sport TV ou onde tiver jogo, às vezes canal de documentário”, completa Marcelino.
As revistas são como o cardápio da casa. De Veja, Isto É, Correio do Estado, até Playboy, VIP, Sexy e Placar. As compras ficam por conta de José, porque como o irmão explica, só ele consegue selecionar o que vai emplacar e o que pode encalhar. “O jornaleiro liga e avisa, chegou. Ele pergunta quem é a capa e fala, rapaz isso não dá ibope não”, entrega Marcelino. Careca, ele faz barba e cabelo, dos outros, há 46 anos.
E as fofocas não são luxo só do salão das mulheres não. Em plena terça-feira, tinha cliente botando o papo em dia. Produtor de vídeo, Cacildo Gimenez de 47 anos é o primeiro a dizer que o público é mesmo fiel. Ele é a prova viva disso.
“Faz 30 anos que eu corto cabelo aqui. Do que a gente fala? Ah geral, sobre política, economia, futebol, assunto atualizado. Para chegar aqui tem que ter visto o Bom Dia Brasil. Nego tapado aqui não tem vez”, brinca.
No Caicó, o atendimento começa 8h e se encerra às 18h30. O corte de cabelo sai por R$ 25 e a barba, pelo mesmo preço.
Na avenida Afonso Pena, altura da igreja Perpétuo Socorro, entrar no salão São José é dar de cara com o futebol na televisão e com cliente folheando revista masculina. Na capa, nada de bombástico da novela e nem fofoca.
“Aqui é exigência, se não tiver o pessoal reclama”, diz o barbeiro Rodolfo Ruiz Franco, de 57 anos.
O salão ficou de herança para o barbeiro Alexandre Lopes Pereira. Ele só faz que sim com a cabeça quando a gente pergunta das revistas. “Tem Playboy escondida aí”, comenta Rodolfo.
No São José, o cabelo custa R$ 20 e a barba R$ 15. Com três barbeiros, inclusive Ronaldo, que é conhecido como ‘Tião’, o São José soube, assim como o Caicó, criar um salão para eles se sentirem em casa. Faltava só uma cervejinha.
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