03/10/2013 - Aos 82 anos, ele ainda é, firme e forte, “o” protagonista do teatro infantil brasileiro. As últimas quatro décadas foram dedicadas a fazer com que panos, papeis de jornal, bonecos, lenços e latões ganhassem e transmitissem vida ao público com um mesmo espetáculo, “Histórias de Lenços e Ventos”.
As cortinas se abrem para o ator, diretor, artista plástico, escritor e mestre da dramaturgia, Ilo Krugli, que se apresenta hoje e amanhã com a companhia Ventoforte, pelo Palco Giratório no Teatro Prosa do Sesc Horto, em Campo Grande.
A idade chegou até para ele que sempre foi criança. O andar é devagar, com auxílio de uma bengala. O rosto traz as rugas de quem tanto sorriu, as mãos envelhecidas de quem pela arte arrancou aplausos ao teatro brasileiro.
Argentino, naturalizado brasileiro, depois de mais de 50 anos tendo o Brasil como residência, ele ainda carrega um sotaque do lado de lá. O teatro entrou na vida de Ilo, ou seria a vida quem cruzou o caminho dos palcos? A ordem não altera o resultado de mais de 70 anos dedicados à paixão de atuar e se permitir incorporar personagens. Os primeiros movimentos com bonecos, centro e dimensão do trabalho dele, vieram aos 8 anos de idade, passados ainda pela professora primária.
Em cena, ele chega a Campo Grande com a peça “Histórias de Lenços e Ventos”, considerada o divisor de águas no teatro infantil brasileiro, pela linguagem e temática. O espetáculo que em fevereiro completa 40 anos resistiu até mesmo à censura, o primeiro público a ver cada apresentação nos anos que sucederam ao golpe militar.
A apresentação é praticamente a mesma desde o início. Houve poucas alterações cá e lá, fruto mesmo da criatividade em cena. A narrativa mostra a figura centrada de Ilo militante. O espetáculo traz ao palco símbolos da busca pela liberdade de expressão, animados por lenços, panos, papéis, metais e uma página de jornal. Elementos reprimidos à época.
Os personagens contam a história de Azulzinha, um lenço azul num quintal que se deixa levar pelo vento e acaba presa por soldados. Papel vai à sua procura, não consegue entrar no castelo medieval e é queimado. Todos os lenços que esvoaçam pelos quintais acabam presos. Mas é junto do público que os atores recriam Papel com um coração de metal, que luta e liberta Azulzinha e os 300 lenços que estão em cena. A arte levando a vida para os palcos, uma alusão ao momento em que todo um País vivia o medo de falar e tinha um povo que estava preso de alguma forma.
E pensar que a complexidade do tema é voltada ao público infantil. Está na peça a razão e o motivo de ter se tornado um marco para a dramaturgia brasileira. “Tem uma corrente que coloca o diminutivo, a criancinha. A criança não é criancinha é um ser vivo que dentro de casa não tem linguagem especial, ele convive com pai e mãe e está ingressando no mundo. Então só fazer o diminutivo pode ser limitador”, explica.
O espetáculo é coletivo e coloca em cena temas como o Muro de Berlim. “Eu sustento que não é tudo que tem que ser uma charada, mas em qualquer lugar, o que a gente fala, elas perguntam ‘pai, o que é Muro de Berlim?’ E eu gosto quando a criança sai e pergunta”.
Questionado do por que o teatro para a criança, o precursor da arte no Brasil explica que é por ele estar presente nos pequenos desde cedo. “Quando começa a engatinhar, a criança está fazendo o teatro. Ela brinca com o imaginário, pega um telefone e ainda que ele vá servir como telefone mesmo, a imaginação dela está criando. O teatro tem esse encantamento, ele entra no imaginário e a criança celebra e gosta muito”.
Palco Giratório – Com o projeto do Sesc, Ilo e a companhia Ventoforte viajam por todo País levando a cultura popular nas apresentações e ainda ministrando oficinas. Aqui, foram dois dias de ensinamentos e um público que se resumiu a cinco atores da Casa de Ensaio. Reflexo da etapa cultural em que se vive, percebida e amargada pelo mestre.
“Eu te diria que estamos vivendo uma etapa não das mais felizes. Porque a TV obedece a programação de mercado. Os espetáculos, as novelas são acompanhadas de publicidade, que só vendem produtos, a própria novela é decorrente de um produto, enquanto no teatro estamos acostumados a muitas vezes, o público subir no palco, chegar perto dos atores e perguntar ‘é de verdade?’”
Entre as capitais do País, Ilo só não conheceu ainda Belém do Pará. Mas no geral, o público tanto das oficinas, como das apresentações, nem sempre enche o teatro. Ele tem um forte e indiscutível argumento, tudo depende da divulgação e do foco dos divulgadores. “Os meios de comunicação estão ocupados com a arte de mercado e nós não somos teatros de mercado”.
E diante deste contexto, o Lado B Ilo também fala da dificuldade de viver do teatro, da arte e da cultura. A resposta, não é novidade. “É complicado. Estamos vindo de um festival e viajando o País através do Palco Giratório, então tem alguns projetos que contribuem, mas é difícil”.
Entre todos os personagens que construíram o mestre, a gente se pergunta se aos 82 anos ainda é possível subir ao palco com a mesma vivacidade de um iniciante, ter na memória e na ponta da língua os textos. A resposta é digna de quem merece aplausos em pé.
“O teatro exige todos os dias. Eu não sei até quando vou ficar, mas acaba um espetáculo e no outro dia vamos voltar a fazer tudo de novo e isso é muito bonito. Eu estou dentro, escrevo textos, canções, faço personagens. Nós não decoramos especificamente, vamos construindo personagens na gente. Estamos frente ao público e ao mesmo tempo representando”.
Apresentação - Nesta quinta será apresentada a peça “Histórias de Lenços e Ventos”, às 18h30. Amanhã é a vez do espetáculo “As 4 Chaves”, também às 18h30. As apresentações acontecem no Teatro Prosa do Sesc Horto e os ingressos saem a partir de R$ 10,00.
Questionado do por que o teatro para a criança, o precursor da arte no Brasil explica que é por ele estar presente nos pequenos desde cedo. “Quando começa a engatinhar, a criança está fazendo o teatro. Ela brinca com o imaginário, pega um telefone e ainda que ele vá servir como telefone mesmo, a imaginação dela está criando. O teatro tem esse encantamento, ele entra no imaginário e a criança celebra e gosta muito”.
Palco Giratório – Com o projeto do Sesc, Ilo e a companhia Ventoforte viajam por todo País levando a cultura popular nas apresentações e ainda ministrando oficinas. Aqui, foram dois dias de ensinamentos e um público que se resumiu a cinco atores da Casa de Ensaio. Reflexo da etapa cultural em que se vive, percebida e amargada pelo mestre.
“Eu te diria que estamos vivendo uma etapa não das mais felizes. Porque a TV obedece a programação de mercado. Os espetáculos, as novelas são acompanhadas de publicidade, que só vendem produtos, a própria novela é decorrente de um produto, enquanto no teatro estamos acostumados a muitas vezes, o público subir no palco, chegar perto dos atores e perguntar ‘é de verdade?’”
Entre as capitais do País, Ilo só não conheceu ainda Belém do Pará. Mas no geral, o público tanto das oficinas, como das apresentações, nem sempre enche o teatro. Ele tem um forte e indiscutível argumento, tudo depende da divulgação e do foco dos divulgadores. “Os meios de comunicação estão ocupados com a arte de mercado e nós não somos teatros de mercado”.
E diante deste contexto, o Lado B Ilo também fala da dificuldade de viver do teatro, da arte e da cultura. A resposta, não é novidade. “É complicado. Estamos vindo de um festival e viajando o País através do Palco Giratório, então tem alguns projetos que contribuem, mas é difícil”.
Entre todos os personagens que construíram o mestre, a gente se pergunta se aos 82 anos ainda é possível subir ao palco com a mesma vivacidade de um iniciante, ter na memória e na ponta da língua os textos. A resposta é digna de quem merece aplausos em pé.
“O teatro exige todos os dias. Eu não sei até quando vou ficar, mas acaba um espetáculo e no outro dia vamos voltar a fazer tudo de novo e isso é muito bonito. Eu estou dentro, escrevo textos, canções, faço personagens. Nós não decoramos especificamente, vamos construindo personagens na gente. Estamos frente ao público e ao mesmo tempo representando”.
Apresentação - Nesta quinta será apresentada a peça “Histórias de Lenços e Ventos”, às 18h30. Amanhã é a vez do espetáculo “As 4 Chaves”, também às 18h30. As apresentações acontecem no Teatro Prosa do Sesc Horto e os ingressos saem a partir de R$ 10,00.
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