24/08/2013 - Em meio à onda de violência que assola inúmeras regiões do País, onde notícias escabrosas ilustram páginas dos jornais todos os dias, Campo Grande se destaca por estar entre as cinco capitais menos violentas. Segundo levantamento feito pelo Cebela (Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos), a cidade Morena ocupa o 4° lugar no ranking de homicídio com 21,4 em 2011, número embasado no cálculo a cada 100 mil habitantes. São Paulo (11,9), Florianópolis (20,4) e Boa Vista (21), ficaram com os três primeiros lugares do pódio.
Em comparação ao número de homicídios da última década, a Capital sofreu queda de 37,2%, tendo em vista que em 2001 o índice era de 32,1. Prestes a completar 114 anos, Campo Grande é reconhecida nacionalmente pela beleza e acima de tudo pela seguridade que oferece aos moradores, motivos que levam pessoas de todo o Brasil a virem morar aqui em busca de vida tranquila.
A cidade atrai famílias inteiras como é o caso da contadora, Márcia Ventura, 43 anos, que nasceu e morou grande parte de sua vida em Belém, capital do Pará, cidade que, segundo ela, é maravilhosa não fosse a violência urbana que assombra a população. A decisão de escolher outra capital para morar se intensificou quando suas duas filhas, Yasmin, 18 anos, e Ianka, 16, além de sua mãe, Odete, 66 anos, foram vítimas de assalto à mão armada em plena luz do dia.
“O homem fingiu ser flanelinha. Depois de minha mãe estacionar o carro, ele bateu no vidro com a arma apontado para elas e conseguiu quebrar a janela, entrou no carro, começou a gritar para a minha mãe e as minhas filhas saírem do carro, com a graça de Deus elas saíram e ele foi embora com o veículo, após 26 dias a polícia achou a carcaça do veículo”, contou.
Bastou o episódio para traumatizar a família a ponto de ninguém mais sair de casa a não ser para ir à terapia que também foi fruto do assalto. Depois de três anos do ocorrido as moças já conseguiam retornar à normalidade, mas a idosa parou de dirigir e desenvolveu síndrome do pânico. “Foi muito difícil, minha mãe voltou a dirigir este ano”, relembra. De 2001 a 2011, Belém cresceu 63% no mapa da violência. Passou de 352 homicídios para 574, acupando o 15° lugar no ranking de capitais menos violentas.
Márcia conta que até hoje se recorda com carinho da cidade natal, sente falta das comidas típicas, das pessoas, dos lugares, mas precisava achar uma capital que ofertasse qualidade de vida à família. Encarou pesquisa árdua em busca de novos destinos durante 1 ano e meio. Foi quando veio passar 10 dias em Campo Grande e percebeu que aqui era o local ideal para viver. Com os olhos cheios de lágrimas as quatro mulheres se despediram do Pará, deixaram para trás muitas lembranças e abriram os corações para outra jornada.
Embora tenha enfrentado as dificuldades de quem segue novo rumo, hoje Márcia se diz uma verdadeira campo-grandense e garante, “o que eu tenho a dizer desta cidade é que nenhuma de nós quer sair daqui. Eu não tenho o que me queixar, pelo contrário tenho muito a agradecer pelo povo maravilhoso e hospitaleiro que abriu os braços e o coração para mim e minha família. Nós construímos em dois anos aqui a nossa família sul-mato-grossense”, comemora.
A seguridade de Márcia em trazer as filhas para cidade também é reflexo da colocação de Campo Grande no mapa da violência. Conforme o mesmo levantamento, o Município está entre as cinco capitais com menor índice. Foram 58 homicídios entre jovens no ano de 2011, queda de 32% se comparada às 86 mortes em 2001. Somente Boa Vista, Rio Branco, Palmas e Florianópolis estão à frente no ranking. Porto Velho está no mesmo patamar com 58 assassinatos.
Segundo o sociólogo, Paulo Cabral, que é paulistano, mas mora em Campo Grande há 32 anos, a mudança de cidade é mais fácil quando a pessoa tem predisposição, mesmo que seja motivada por fatos traumáticos, como é o caso da contadora. “O exílio voluntário é um passo importante para adaptação. Mesmo que mudança implique em deixar para trás um pedaço de sua história, o migrante vai construir outro no lugar em que está”, explicou.
A fama de que a capital sul-mato-grossense inicialmente é menos receptiva inicialmente é verdadeira, pois, de acordo com o sociólogo, um terço dos “forasteiros” que povoaram Campo Grande são paulistas ou mineiros, pessoas que vêm de culturas mais introspectivas, tornando-se uma característica da população nativa.
Por outro lado, Paulo garante que depois da fase de inserção à vida campo-grandense, migrantes conquistam bons e verdadeiros amigos na cidade Morena. “Quando quem vem de fora é acolhido já está em casa, não é algo superficial. Tanto que, de modo geral, migrantes têm projeto de permanência na Capital. Eles querem estar aqui”, finalizou.
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