20/03/2013 - A propaganda é simples, em um pedaço de papelão, mas o slogan é poderoso: “A melhor paçoca do mundo”. Um dos pontos de venda também é escolhido a dedo, a Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul.
Mesmo com a promessa audaciosa de sabor único, João Virgínio leva o que produz em um carrinho simples, de feira. O doce é feito em casa, cerca de 300 paçocas todos os dias.
O lugar também é simples. Os ingredientes vão se misturando em um cômodo, no fundo de casa, no Jardim Cerejeiras.
O cearense, de 85 anos, não tem preguiça, leva a vida há mais de 24 anos assim, vendendo a “melhor paçoca do mundo”.
Ele lembra que deu o título porque a paçoca que produz não é enjoativa, “nem muito doce, nem muito salgada, no ponto”, garante. Nascido em terra onde paçoca é uma mistura de farofa e carne seca, a receita mudou completamente quando passou a viver em Cuiabá.
O preparo tem amendoim torrado e moído por João mesmo, um cuidado para “ser diferente”. Tudo é batido no liquidificador e depois misturado ao “melado”, uma calda doce, com um pouco de sal. “Tem gente que mistura a paçoca na farinha, para render mais e ser mais barata, mas eu não economizo, o importante é ficar boa”.
Em alguns bares de Campo Grande, ou em secretarias do governo, João se tornou figura famosa, empurrando o carrinho de feira cheio de paçocas.
Entre os clientes há alguns deputados. Ele conta que chegou a ser proibido de vender na Assembleia, para não haver aglomeração de ambulantes no local. Mas insistente, todo começo de mês João está lá. “Quando “sai” o pagamento dos servidores, volto a circular pelo Parque dos Poderes, eu tenho muitos clientes”.
Como não tem carro, João vai de ônibus mesmo. A regra da casa é: voltar sem nenhuma paçoca, então, por vezes o senhor acaba retornando tarde, no horário do último coletivo do dia. Vida dura, mas que representa a única renda da família.
As paçocas são vendidas em uma caixinha, com 10 unidades do doce, por R$10,00. Mas ele também vende separadamente, a R$ 1,00 cada.
Casado há seis anos com a paraguaia Elizabeth Evangelista Godoy, 58 anos, a esposa também tratou de aprender como fazer o ganha pão. Hoje, ajuda no preparo, que leva pelo menos três horas.
Elizabeth conta que nunca teve hábito de comer paçoca, e hoje, mesmo com diabetes, não consegue controlar o vontade de comer o doce, "Quando vejo, já estou comendo".
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